Sempre que me perguntam qual a minha cor favorita, respondo que é o azul. Quando você é criança e aprende a gostar de uma cor, não escolhe um motivo, não espera que ela tenha um significado, que represente algo. Você apenas gosta.
Mas como temos a mania de buscar significado em tudo, alguns propõe representações. Existe um estudo chamado “Psicologia das Cores” que busca compreender o comportamento humano em relação a elas. Dessa forma, essa área da psicologia analisa e define quais os efeitos que cada cor gera nas pessoas, como mudanças nas emoções, nos sentimentos, a criação de desejos e muito mais.
O pessoal de marketing, por exemplo, usa muito disso para a produção de uma marca, na definição de embalagens e na aparência dos produtos. Tudo para “vender” uma ideia.
Assim, em cada proposta defendida, o azul por exemplo, pode representar a fé, espiritualidade, contentamento, lealdade, paz, tranquilidade, calma, estabilidade, harmonia, unidade, confiança, verdade, conservadorismo, segurança, limpeza, ordem, céu, água, frio, tecnologia. Pode produzir segurança, compreensão, mas também pode ser associada à frieza, monotonia e depressão.
E as ideias, possuem cores? Há algum tempo participei de uma proposta onde minicontos recebiam como título cores. Quando o livro “Minicontos coloridos” foi editado, os títulos foram suprimidos e os leitores escolhiam uma cor que representasse o texto. Assim, o que para alguns era azul, para outros seria melhor representado pelo violeta, por exemplo. Cada um escolhe um significado para as cores em sua vida. O livro tinha uma espécie de lema: “Livro para colorir, ler e pensar”.
Se uma ideia tem cor, o que essa cor pode representar em seu projeto de vida? Nesta semana, participando de um treinamento para a qualificação de escritores na elaboração de projetos culturais, me deparei com o texto de Marina Colasanti, contista, jornalista, tradutora e artista plástica ítalo-brasileira.
Em “Uma ideia toda azul”, conta a história de um rei que teve uma ideia, toda azul. Ele ficou maravilhado com ela, nunca havia tido uma em sua vida. Dividiu bons momentos com ela, enquanto a explorava. Era uma ideia tão boa. Mas ficou com medo que fosse roubada. Então, não a dividiu com ninguém, procurou um lugar seguro. A deixou repousando e a trancou-a com chave. Ali ela permaneceu por muitos anos, enquanto o rei envelhecia e era esquecido.
Já próximo do fim, o rei lembrou de sua ideia e foi resgatá-la. Ela estava lá, exatamente como ele a deixou, mas já não representava o mesmo. Não fazia mais sentido para o momento da vida do rei ou para seu reino. Então o rei voltou a trancá-la e chorou suas últimas lágrimas.
O que temos feito com nossas ideias? Estamos tentando vendê-las, fazendo com que se tornem realidade ou deixando-as adormecidas até que percam o sentido, até que não possam mais trazer resultados para a nossa vida ou para a vida de outras pessoas.
Pode ser que alguém não lhe dê crédito por uma ideia, mas o mais importante em relação a ela é que ela seja colocada em prática. Alguns costumam roubar a ideia de outros, mas ela nunca terá a mesma cor para eles. Você sim, saberá o que ela representou em sua vida e na vida daqueles que realmente importam.
Sim, é possível, é fácil sonhar colorido.
Num outro dia, conto a história trágica de um outro rei, que quis uma cor azul só dele, que não pudesse ser reproduzida por mais ninguém.
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