
A pichação das lindas pinturas realizadas recentemente na cidade, mais especificamente na praça do Rio Iguaçu, infelizmente eram previsíveis. Todos sabíamos que isso aconteceria, embora torcêssemos para que a previsão não se cumprisse. Mas lamentavelmente alguém foi lá e estragou o trabalho realizado com tanto esmero. Porquê? Qual é o propósito de alguém gastar dinheiro com tinta, gastar tempo para danificar algo que foi colocado ali para tornar o ambiente mais bonito e agradável para todos? Talvez nem o pichador saiba dizer se existe um propósito. E o que é um pichador?
Na Paris dos anos 1960, jovens estudantes franceses começaram a escrever em paredes de prédios públicos, protestos contra o governo. No Brasil, na mesma década, estudantes se utilizaram da pichação para protestar contra a ditadura e em diversos outros países essa prática foi adotada como comunicação de protestos contra governos, contra guerras (idealizadas por governos), contra mazelas sociais. No entanto, ao longo dos anos a pichação foi deixando de servir apenas a esse tipo de propósito para servir de forma de comunicação entre gangues e, os pichadores outrora estudantes preocupados com justiça social, agora parecem não ter propósito algum.
Nossa cidade não é uma exceção. Pichadores estão por toda a parte. Em comum a rebeldia sem causa na maioria deles. Pichar os belos desenhos na “Praça do rio” não serve como protesto, é apenas um ato de vandalismo. Não tem nada de artístico, não é “street art”, sequer é comunicação entre gangues rivais, é apenas vandalismo mesmo. Porém, mesmo esses atos desprovidos de propósitos nos alertam para uma reflexão necessária e importante: Há que se preocupar com aqueles que não sentem o pertencimento na cultura da sociedade em que vivem, por que aquele que não pertence a uma cultura, não se orgulha dela e muitas vezes até sente desprezo por ela.
Essas pessoas, os pichadores, geralmente não levam essa prática por muitos anos e raramente são adultos trabalhadores que saem passando tinta em prédios da comunidade. Quase a totalidade dos pichadores são pessoas jovens, talvez adolescentes que compram um frasco de tinta com o dinheiro que o pai deu para o sorvete. Abandonarão a prática da depredação das coisas públicas, mas a menos que sejam influenciados fortemente, nunca sentirão o “pertencer” à comunidade e são fortes candidatos à cidadania medíocre, passiva e sem graça.
E o que devemos fazer quanto ao vandalismo? Ignorar, reagir violentamente? Encontrar e punir os vândalos? Desistir do projeto das belas pinturas? Retornar às paredes pálidas e sem graça? Na humilde opinião desse cidadão que se orgulha muito e mesmo de longe sente o pertencimento à São Mateus do Sul, a primeira providência é a reconstrução do que foi destruído. Se os culpados forem identificados e localizados, ótimo, que recebam a punição que a lei prevê, mas o mais urgente é refazer, restaurar as pinturas e se picharem novamente, refazer, refazer, refazer, até que os pichadores sintam o quão ridículos são suas atitudes. Se simplesmente abandonarmos as pinturas pichadas, a imbecilidade terá vencido essa batalha.
Embora possa ser utópico, vamos sonhar com o dia em que essas belezas sejam defendidas por todos e que cada cidadão possa olhar para as coisas públicas e pensar: “Eu pertenço a este lugar!”
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