
Os direitos fundamentais da propriedade e da livre existência são preceitos assegurados em diversos artigos da Constituição Federal de 1988. A história da vida de Mário Macuco e de sua esposa Alberta parece inacreditável dada a proporção de seus acontecimentos. A maldade humana imperou muitas vezes neste cenário, fazendo com que uma família de agricultores bastante simples, passasse por dificuldades até os dias atuais.
Atualmente, o casal reside no interior de nosso município, mais precisamente na comunidade do Rio das Pedras, ao lado de sua neta, que é seu maior tesouro. Mario era um rapaz forte e trabalhador, casando-se com Alberta e gerando um casal de filhos ainda quando mais jovens. Eles viviam da agricultura e do plantio de roças, com um futuro que parecia bastante promissor.
O acidente na BR-476
A boa sorte da família pareceu terminar no dia 18 de outubro de 1994. “Eu peguei carona com uma carroça que trafegava tranquilamente pelo acostamento, no trecho da BR-476, quase em frente ao CEPE (Clube dos Empregados da Petrobras). Acabamos sendo atropelados por um ônibus da Viação Bituva. Eu sofri um traumatismo craniano muito sério, meu cérebro chegou a ficar exposto. Fiquei 9 dias na UTI. Depois de sobreviver mesmo com a descrença do médico que me atendeu, em função da situação, foram 5 anos nos quais não pude trabalhar em decorrência do meu estado de saúde”, explicou Mario Macuco.

e luta por uma existência mais digna.
Em contrapartida, a empresa causadora do acidente não prestou nenhuma assistência a Mario e aos demais afetados pelo ocorrido. “Minha história é tão cheia de detalhes de sofrimento, que é difícil manter a serenidade ao contar. Além da postura da empresa na situação, ainda sofri com a má-intenção de alguns advogados que me representaram no caso, em vários momentos. Isso fez com que aquele acidente marcasse o início de um período de luta diária para mim e minha companheira Alberta, sem a qual nossa família não estaria aqui hoje”, comentou Mário, bastante emocionado.
O desfecho do caso
Em função do grave acidente, Mario passou por um estágio onde qualquer esforço poderia representar um perigo. “Depois do acidente, passei a trabalhar desde as 5h até as 11h, e inclusive nos finais de semana, enquanto o Mario cuidava dos nossos filhos em casa. Mesmo com o Mario tendo ganho todas as audiências, a empresa decretou falência e não recebemos nenhum tostão de indenização”, comentou Dona Alberta.
Alguns anos depois, mais precisamente em 2004, a situação da família de pequenos agricultores viveu um capítulo dramático novamente. “Após vendermos alguns bens, compramos um veículo usado e ensinei meu filho a dirigir, apenas para fazer pequenas saídas dentro do sítio rural. Certa vez, enquanto meu filho manobrava o automóvel, outro jovem aqui do interior veio em direção a ele em uma motocicleta, em uma velocidade inacreditável. O choque foi inevitável, e esse acidente trouxe consequências ainda mais severas à nossa vida”, explicou o casal.

O acidente colocou as famílias em disputa judicial. “A Justiça ignorou a culpabilidade nas duas partes envolvidas, pois o jovem da motocicleta estava muito errado também. Fomos condenados a pagar pensão vitalícia a ele, que passou a ser considerado incapaz e teve uma tutora nomeada. É triste observar que a vida dele continuou normalmente, sem nenhuma lesão física ou mental que de fato o impossibilitasse de exercer suas atividades. Estou há 27 anos sofrendo consequências de um acidente que não causei e sei o quanto isso é horrível”, revelou Mario.
O incidente do envenenamento
Outra situação de injustiça bastante desagradável vivida pela família de trabalhadores, foi um episódio surrealista de envenenamento. Alberta e Mário estavam trabalhando no desenvolvimento e produção de sementes crioulas de feijão, completamente orgânico e livre de pesticidas químicos. Um avião passou sobrevoando a propriedade e derramando veneno sobre toda a plantação, inclusive sobre o casal. “Este episódio chega a ser difícil de acreditar, mas na época foi muito doloroso perder toda a nossa plantação de feijão orgânico, estávamos indo até atrás de um selo de certificação. Foi mais um acontecimento que revelou a maldade que me faz perder a crença na boa-fé da humanidade”, contou o casal.
Dificuldades atuais
Atualmente, as dificuldades passadas pelo casal se referem aos antigos processos das situações mencionadas nesta reportagem. Ao longo dos anos, Mario Macuco e Dona Alberta passaram por diferentes episódios e atos de má-fé, seja dos diferentes envolvidos nas histórias, tanto daqueles que deveriam representá-los e atuar em sua proteção. “Atualmente estão querendo executar nossa propriedade, fruto de muito trabalho árduo e sofrido. Eu e minha esposa já estamos doentes de tanto trabalhar, nossa terra é a única marca restante de nossa identificação com este local. Somos pequenos produtores e trabalhadores que clamam há quase 30 anos por justiça, exaustos de tanta enganação”, comentou Mario.
Após procurar a redação da GI, o casal revelou que seu único desejo é que os fatos sejam reinterpretados pela justiça, tendo em vista as características que os originaram. “Nós produzimos tudo o que necessitamos para sobreviver, nesse ponto agradecemos à maravilhosa natureza. Nosso único pedido é para que nossa história seja ouvida e conhecida por toda a sociedade. Ela possui vários aspectos cruéis e imagino que para alguns pode ser difícil de acreditar, mas todos os documentos, ações e papéis que possuímos, além dessa luta constante pela nossa existência, podemos contar para todos que quiserem saber. Queremos justiça”, enfatizou o casal de trabalhadores são-mateuenses.
Éber Deina
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