Na última quinta-feira, dia 27 de maio, perdemos, entre tantos outros, duas personagens marcantes na vida brasileira. Cada ser tem a sua importância, para aqueles que os cercam, mas alguns conseguem se destacar por seus feitos, por seu legado que pode influenciar a vida de milhares ou milhões de pessoas. Então, se foram Jaime Lerner (83 anos) e Nelson Mattos (96 anos).
Lerner foi arquiteto, urbanista e político. O paranaense, prefeito por duas vezes e governador por duas vezes, levou Curitiba e o Paraná a uma maior projeção internacional, recebendo diversos prêmios e reconhecimentos, como o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1990, e Unicef Criança e Paz, em 1996. Também em 2010, foi indicado pela Revista Time como um dos 25 pensadores mais influentes do mundo, além de receber a Medalha de Urbanismo da L’Académie D’Architecture, na França, entre tantos outros.
Como atuou politicamente, pode não ter agradado a todos e como todo ser humano, cometido alguns erros. Mas acredito que seus feitos foram maiores, seu legado um diferencial.
Com suas ideias, transformou o transporte urbano não só de Curitiba, mas de várias metrópoles do mundo. Criou muitos dos cartões postais de Curitiba, também.
Minha maior admiração pelos seus feitos está no planejamento e na crença de que as coisas precisam ser bem-feitas e em tempo reduzido, para que se possa usufruir das melhorias mais rapidamente. Quando isto acontece, abre caminho para novos feitos, para o engajamento de outras pessoas e coisas boas voltam a ocorrer. Também não dá oportunidade aos aproveitadores de plantão que tendem a impedir os feitos daqueles que têm o dom da visão, de enxergar o futuro.
Vi, numa reportagem, que o Calçadão da Rua XV foi feito em três dias. A Ópera de Arame em 75 dias e o Jardim Botânico em tempo recorde também. Tudo é uma questão de decisão, planejamento e execução, com vontade de fazer, com dedicação.
Talvez eu só chova no molhado, falando dos feitos de Lerner, mas quem sabe o trabalho dele possa servir de inspiração para muitos de nós.
Em relação à segunda pessoa que nos deixou, eu não conheci muito o Nelson de Mattos até a última quinta-feira. Talvez o nome Nelson Sargento traga mais lembranças para alguns de vocês. Nelson foi cantor, compositor, pesquisador, artista plástico, ator e escritor. O Presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira, levava uma vida simples, mas influenciou a vida de muita gente. Ganhou o apelido por ter ficado no Exército por quatro anos. Depois, ganhava a vida pintando paredes. Somente gravou seu primeiro disco aos 55 anos.
Compôs mais de 400 canções, gravadas por grandes intérpretes de samba. Foi autor de vários sambas-enredo vitoriosos da Mangueira. Ele dizia que era enjoado com os parceiros, entre os poucos estava Cartola. Nelson também trazia em suas letras muito significado e mensagens de positividade e de esperança. Vi uma de suas declarações onde dizia que tudo o que precisamos é de união, pois ninguém consegue nada sozinho. Talvez seja por isso que ele vivia rodeado de muita gente.
Mesmo próximo de se tornar um homem centenário, era lúcido e atuante. Dizia que se sentia reconhecido em vida, tendo em conta o número de prêmios que recebeu, mas dizia ainda não se sentir realizado, pois ainda havia muito a ser aprimorado.
Admiro pessoas com capacidade de realização e que lutam, batalham, criam, constroem, encantam até o final de suas vidas. Aproveitaram até o último respiro o dom que lhes foi entregue. Quem sabe eu ainda tenha tempo para deixar um bom legado. Você também!
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