
Há algumas semanas contei uma das tantas histórias que conheço de Francisco Nadolny, dizendo que ele era um dos meus “heróis” preferidos da imigração polonesa em São Mateus. Mas para todo o grande herói há sempre um vilão disposto a lutar com ele até à morte… Ou seria também “após a morte”? Embarque comigo nesta história!
Assim que se estabeleceram em São Mateus, os irmãos Francisco e Alexandre Nadolny montaram, com apoio dos colonos, uma serraria espetacular, movida a roda d’água. A produtividade do estabelecimento dos Nadolny rapidamente fez eles se tornaram uma referência no trabalho com a madeira na região. Mas, quando tudo parecia ir bem, surgiu na cidade de Palmeira uma serraria concorrente. Comandada pelos irmãos Luís e Ottoni Maciel, filhos de Pedro Maciel, um dos coronéis que mandava e desmandava nos Campos Gerais.
Os irmãos Maciel passaram a rivalizar em tudo com os Nadolny, e o ódio que foi crescendo entre eles ultrapassou a simples concorrência nos negócios para adquirir contornos pessoais. Durante a Revolução Federalista de 1893, Luís Maciel atacou São Mateus, assassinou revolucionários e incendiou casas. Mesmo Francisco Nadolny sendo governista, protestou fortemente contra os abusos do Major de Palmeira. Ottoni Maciel, deputado e promotor, usou os jornais de Curitiba para defender o irmão e acusar falsamente os poloneses de São Mateus. Alguns meses depois viria a vingança: o Batalhão Polaco invadiria Palmeira e faria os Maciel correr. Ulisses Faria prenderia o coronel Pedro Maciel e Bodziak quase enforcaria o velho.
Mas o fim da revolução não daria trégua a esta rivalidade. Em 1899, quando houve o auge da briga entre os maçons e os católicos poloneses, o padre maçom de Palmeira, Vicente Gaudinieri, confiscou as chaves da capela de Vila Palmira, impedindo os polacos de assistirem missas. Luís e Ottoni Maciel também eram maçons, e tentaram defender o padre Vicente, mas foram surpreendidos por “50 polacos armados”, comandados pelo padre da Água Branca e por Francisco Nadolny, que atacaram a igreja matriz de Palmeira e recuperaram as chaves. Ottoni Maciel ainda tentou montar uma perseguição a Francisco Nadolny, mas não teve sucesso.
Acontece que o destino gosta de brincar com a gente… Após uma vida inteira de lutas em São Mateus e em Palmeira, Francisco Nadolny foi morar em Curitiba e o mesmo ocorreu com Ottoni Maciel… E os dois faleceram em Curitiba, e foram enterrados lá, no mesmo cemitério e, numa incrível coincidência, em túmulos vizinhos! Como disse-me o neto de Francisco Nadolny que tirou a foto dos túmulos (que ilustra esta coluna), “os dois devem estar até hoje brigando debaixo da terra”.
Até a próxima semana e céus limpos para todos nós!
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