

Em 1827, Debret representou um trabalhador negro nas obras da Igreja do Rosário em Curitiba, imagem que desconstrói o mito de um Paraná exclusiva.
No dia 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que abolia a escravidão no Brasil. Por esse motivo, trago, na coluna dessa semana, esse tema. Há um mito histórico envolvendo a formação da sociedade paranaense. A do embranquecimento europeu. Sabemos que nosso estado foi colonizado por portugueses, espanhóis, ucranianos, poloneses, japoneses, alemães etc, contudo, não podemos esquecer da presença negra. Que além de contribuir com a mão de obra, também trouxe consigo sua cultura, língua, costumes, religiosidade entre tantas contribuições. Por conseguinte, o mito se estende à medida que ouvimos, que por aqui, em território paranaense, não houve escravidão, o que não é verdade. Na época da escravidão, os negros trazidos para o Paraná geralmente exerciam a função de escravos domésticos- cozinheiras, capatazes, domadores de cavalo e caseiros. Durante o ciclo tropeirista, muitos deles, também exerciam tal atividade para seus senhores. Além disso, a mão de obra negra e escrava também foi utilizada nos engenhos de erva-mate.
Segundo a pesquisa do colega e historiador Rodrigo Castro, “naquele tempo a riqueza de um homem era avaliada pelo número de escravos e pela quantidade de terra que ele possuía”, através dela, temos o nome de alguns ex-proprietários de escravos, das primeiras famílias que aqui chegaram em São Mateus do Sul, como José Bueno de Camargo, Gabriel Vieira de Alvarenga, e Salvador Fernandes de Chaves. Ainda, segundo Rodrigo “(…) a maioria da população que originalmente se instalou em São Mateus se compunha de “homens livres”, que dada sua pobreza eram apenas lavradores que não possuíam terras e muito menos ainda escravos. Muitos aliás, eram escravos alforriados que se tornaram mão de obra fácil e barata para o extrativismo da erva-mate, na qualidade de agregados em uma situação que em nada diferia da sua antiga condição”.
Um fato interessante também constatado por Rodrigo através da consulta em certidões de batismo e casamento, é que dois povoadores aqui de São Mateus, Francisco de Paula Farias, morador do Rio das Pedras e Rosas, e Antônio José de Lima Pacheco, morador do Emboque, foram casados com filhas de uma escrava da Fazenda Pugas de Palmeira. Clara Magdalena dos Santos e Manuel Elias de Araújo, eram proprietários da escrava Flora Maria dos Santos, mãe de Senhorinha Maria de Araújo, casada com Antônio, e Escolástica Francisca de França, “amasiada”, como diziam naquela época, pois estava no segundo casamento, com Francisco. Ou seja, o povoamento de São Mateus do Sul também possui descendência negra e escrava, motivo de orgulho para a história do município. Contudo, em pelo século XXI, infelizmente, persiste o preconceito racial pelo mundo inteiro, e é nesse momento que o historiador tem um papel importante, o do resgate histórico a fim de desconstruir discursos prontos, como o mito citado acima. Resgatar a história amigos leitores, é acima de tudo, um ato de empatia! Viva a diversidade, viva a história! Até a próxima viagem!
- Monte Castelo - 21 de dezembro de 2018
- Carta de despedida aos leitores - 14 de dezembro de 2018
- Quem foi a verdadeira Cleópatra? - 7 de dezembro de 2018
Comentários